Uma das características das obras de Clarice Lispector se dá para um fluxo da consciência. Despreza o enredo lógico, as peripécias, a trama episódica. Misturam, na maioria das vezes, narradores diversos, espécies de alter-egos da autora.
A entronização literária de Clarice Lispector ocorre junto com o início do Terceiro Tempo do Modernismo (1945-1970). Trata-se de um período muito criativo, de experimentalismos e pesquisa estética.
O conto “Felicidade Clandestina” é um dos 25 que compõe o livro que tem por título o nome do conto, escrito por Clarice Lispector, e publicado em 1971, redigido em primeira pessoa, retrata momentos da infância da autora. A felicidade almejada pela menina no conto está a todo o momento subordinada a oportunidade de acesso ao livro. Por estar em busca de algo que a complete, essa felicidade se torna clandestina a partir do momento que ela deseja ter o que não possui, permitindo que a outra menina a manipule.
Conto de fundo autobiográfico, em que a narradora relembra sua infância no Recife, ela era apaixonada pela leitura, mas, por ser de família pobre, suas condições financeiras não eram suficientes para comprar livros, então ela vivia pedindo-os emprestados para uma menina que era filha do dono de uma livraria. Essa menina não gostava de ler, era gorda, baixa, sardenta, enfim, de aparência esteticamente feia, se sentia inferior as outras meninas.
Essa foi a felicidade clandestina da menina. Fazia questão de “esquecer” que estava com o livro para depois ter a “surpresa” de achá-lo. “Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.”
Neste conto, Lispector dá ênfase, de forma subliminar, ao amor pela leitura e ao apego, que aos olhos da massa se torna exagerado. Para aquela menina se tornara uma semelhança de uma mulher com seu amante.
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